Entrevista com a Diretora do Lar de Idosos Universal
Para a Dra. Anabela Frazão, conviver com os mais idosos é uma escola de vida, algo que tem vindo a fazer há cerca de 9 anos e que pretende continuar a fazer. É no Lar de Idosos Universal, uma instituição que aponta como exemplar em muitos aspetos, que tem vindo a desempenhar a função de Diretora Técnica
Há quanto tempo está à frente da Direção Técnica do Lar?
O Lar de Idosos Universal está em funcionamento desde 2002, portanto, há 9 anos, mas o meu trabalho teve início dois anos antes, para preparar o licenciamento da atividade da instituição e a estruturação de todos os serviços a implementar.
Que balanço faz destes anos?
A fase inicial deste trabalho foi muito difícil, houve até momentos em que parecia ser impossível avançar. Foi necessário vencer muitas barreiras e obstáculos, mas o desejo de ver esta obra em funcionamento a acolher e dar vida aos mais idosos deu-nos coragem e determinação para não desistir deste sonho. Os anos seguintes foram anos em que me comparo àquela mãe que se vê rodeada pelos seus inúmeros filhos e que deseja dar-lhes o melhor em todos os aspetos: o conforto, o carinho, a segurança, o auxílio certo na hora certa. O balanço que faço destes anos é muito positivo porque sempre tivemos resposta para todas as nossas necessidades. Os idosos que acolhemos aqui no Lar Universal, e foram 61 ao longo destes anos, viveram e vivem felizes, rodeados de todo o conforto e acarinhados por uma equipa de técnicos e profissionais que os amam.
Que avaliação faz das condições e das instalações do Lar?
O Lar apresenta aos seus utentes, quer em termos de instalações, quer em termos de condições, uma resposta de primeira qualidade. É comum os visitantes comentarem “não é um Lar, mas um hotel”. O edifício foi concebido e construído de raiz para acolher idosos, com espaços amplos, arejados e iluminados. Os equipamentos são estudados e preparados para ir ao encontro das necessidades dos utentes no seu natural processo de envelhecimento. Desta forma, espaços e equipamentos proporcionam, no seu conjunto, o pleno funcionamento dos diversos serviços e atividades do lar.
Considera que são infra-estruturas dignas para a terceira idade?
Sim, com toda a certeza. O edifício é dotado de todas as condições para a mobilidade e acessibilidade dos utentes: elevador, rampa de circulação externa, rampas internas para acesso de cadeiras de rodas e cadeira elevatória de escadas. Está equipado com as mais diversas e adequadas formas de ajuda, criando espaços e serviços que proporcionam ao idoso o conforto e a segurança que lhe são devidas, respeitando valores fundamentais como são a sua autonomia, privacidade e intimidade.
Os serviços e as diversas atividades prestadas oferecem aos seus utentes o bem-estar e satisfação das suas necessidades físicas, psicológicas e sociais: serviços de alimentação, higiene e conforto, prestação de cuidados específicos a idosos dependentes, prestação de cuidados de saúde, prevenção e tratamento da doença, apoio psicológico e social aos idosos, terapia ocupacional, cuidados de estética e cabeleireiro, tratamento de roupas, e ainda assistência espiritual, proporcionam aos utentes um envelhecimento e uma qualidade de vida dignas.
O que é que os anos de convivência com os idosos que por ali passaram ou que ainda habitam no Lar lhe ensinaram?
Com toda a sinceridade, ensinaram-me muito. O convívio com os mais idosos é uma escola de vida. Em primeiro lugar, aprendi que aquilo que vou ser no amanhã da minha velhice é construído, hoje, por mim. Não adianta esperar para ser velhinho e culpar tudo e todos à sua volta pelas suas tristezas, pela sua falta de afetos, pelas suas limitações. Se eu não definir muito bem o que quero ser e não me esforçar já, nesta etapa da minha vida, para modificar dentro de mim atitudes e comportamentos que de algum modo me prejudiquem ou prejudiquem os que me rodeiam, vou chegar lá na frente com um saco vazio nas mãos. Não terei nada para dar… nada irei receber. Dependendo da atitude de vida assumida no tempo certo, que é hoje, assim seremos idosos felizes e que sabem envelhecer nas limitações próprias da sua idade ou em idênticas condições de vida seremos infelizes. Ao conviver tanto com as pessoas de mais idade aprendi também que a vida é um momento muito mais rápido do que aquilo que as pessoas em geral imaginam.
Sente que o seu trabalho é compensador?
Claro que sim. Ao assumir a responsabilidade pelo bem-estar, segurança e qualidade de vida de uma família tão grande, há necessariamente um grande envolvimento e muitos sacrifícios da minha vida pessoal. Só é possível desenvolver este trabalho se esse desejo nasce mesmo dentro de nós. Não há como fazer uma imitação. Mas, se eu dou (é aquela história do saco que eu falava há pouco), eu recebo. A toda a hora tenho o carinho dos idosos, a necessidade de me tocarem numa mão e com um simples olhar dizerem-me “estou aqui”. Sou uma privilegiada, com uma família tão grande a dar-me mimos.
O número de idosos residentes já é a lotação total da instituição? Se não, o que seria preciso para o Lar acolher ainda mais idosos e funcionar com a lotação completa?
O Lar está licenciado para acolher 60 idosos, quando se cumprirem determinadas condições e requisitos impostos pela Segurança Social. Atualmente, só estamos autorizados por este organismo a acolher 40 pessoas. O que necessitamos, basicamente, é de ajuda financeira para ampliarmos o quadro de pessoal na proporção exigida por lei e também para equiparmos a casa com todas as condições e equipamentos necessários à prestação de um bom serviço.
Como vê o futuro do Lar?
Vejo o futuro do Lar com otimismo, porque creio que todos aqueles que nos têm apoiado, através das suas doações e ofertas, possibilitando deste modo a realização de um trabalho tão nobre quanto este, irão continuar a fazê-lo, de coração para coração, e muitos outros se juntam a nós, neste momento, por reconhecerem que um simples gesto da sua parte pode mudar a vida de um aflito.